A
menina que espera ônibus no centro de BH
Adorava aquele vento
frio misturado com luzes artificiais,
e o cheiro de cigarro e
álcool, e dependendo do local em que estava, um leve odor de urina e monóxido
de carbono, ou simplesmente o cheiro de gente.
Adorava o centro da
cidade sob a noite, nas horas de pico, pessoas esperando o transporte coletivo,
em travessia. Agressivas. Como se voltar para casa o mais rápido
Possível fosse uma fuga
faminta, e o centro fosse um estado hostil em guerra:
nos pontos de ônibus
todos pareciam refugiados amedrontados, milhares de bocas e nenhuma palavra
trocada.
Parecia incrível atravessar por tantas
pessoas, com certeza milhares, sem descolar uma única vez os lábios.
Entra em casa e tranca
o frio lá fora, e guarda o silêncio que trouxe da rua junto com as compras ou a
carteira, e pega o silêncio domiciliar, intensificado com pequenos sons
programados: uma música, o murmúrio indiferente da tv, o som visual e azul da
tela do Notebook, o chiado das folhas de um livro,
o som do atrito dos pés
inquietos sob a coberta buscando um calor que ficou em uma fotografia escondida
em alguma caixa que nunca mais abrirá....