Jacek Yerka |
Os deuses apertam cronômetros.
É só o que fazem por toda a eternidade.
É quase um trabalho braçal. Apertam.
E os números disparam como a eletricidade.
A cada três trilhões de anos eles dão
uma espiada desinteressada: alguém
esperando uma mensagem, um
e-mail, uma carta, a chuva, alguém
sozinho por anos rascunhando.
Alguns incinerando milhões de corpos.
Outros cerrando pessoas. Outros parados
olhando um cronômetro imaginário.
Riem: “Olha aquele lá: mal sabe...
Hahah”. E olham a contagem.
Quando o marcador para, desaparece
instantaneamente junto com a existência
anexa. Nada de alguém folheando um
caderno procurando teu nome e dizendo:
“É meu amigo, parece que você não se saiu
muito bem”
Apenas apertam. Bilhões de contagens
regressivas. Nada de nomes. O nome
é a mais fraca das convenções. Cem anos
é menos que um sexto de um centésimo.
A verdade é que não usam nossas convenções
numéricas. Digo cronômetro para ser didático.
Mas são milhares de deuses. Reunidos. Ativando.
Nunca desativam. Ativam e quando acaba, pronto.
Às vezes eles ficam entediados. E pausam.
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